
Sempre pensei comigo: um dia vou ter tempo para aprender a pintar em tela, nem que seja lá no finzinho da vida, quando estiver aposentada. E aí... a vida dá uma volta em minhas convicções e em quase tudo aquilo que eu tinha como estabelecido (fixo no tempo e espaço). De repente, por causa do amor (que é lindo - e exigente!), abandono meu querido e violento Rio de Janeiro, minha família, meus amigos, meu emprego federal. Desembarco em Lisboa, onde meu marido me aguarda, tão mais magrinho, olhinhos mareados como os meus (a saudade fere o coração da gente!). Rumamos então para nosso novo lar, na cidade de Tomar, um antigo reduto Templário. E, de uma hora para outra, transformo-me numa senhora "do lar"... horas e horas de tempo ocioso para ocupar... todos os dias.
Descobri um ateliê muito simpático, onde pode-se aprender um sem número de artes decorativas (pintura em tela, madeira, vidro, bordados, colagens, etc), zilhões de coisas novas para aprender, descobrir, desenvolver, e, interagir com meus novos vizinhos. Muito interessante conhecer uma nova cultura, novas palavras, significados diferentes, jeitos e trejeitos que eu queria entender. Aqui fala-se o português, mas não igual ao nosso (que eles chamam "brasileiro"). E assim inicia minha luta diária contra as saudades do Brasil, do meu antigo dia a dia, dos nossos costumes e do nosso jeito carioca de ser.
A foto é da minha primeira tela. É uma paisagem um tantinho triste... uma árvore solitária (ok... mal pintada, feinha, mas, acho que tinha mesmo tudo a ver com meu momento) no meio de um caminho, uma espécie de vale onde se avista ao longe um monte. Mas apesar da tal tristeza, avista-se em primeiro plano uma passagem aberta, sem portão. E cá estou a explorar o que há para se ver, viver, experimentar, enriquecer meu ser.